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18-03-2014
Politica

Primeiro-ministro não se compromete com saída limpa

Primeiro-ministro não se compromete com saída limpa
Pedro Passos Coelho vai hoje a Berlim exibir o trabalho feito e levar fatura a Merkel. Sem acordo com o PS, resiste a sair totalmente sem rede. E espera garantias da chanceler.
Pedro Passos Coelho leva hoje a Berlim um discurso exigente com a Europa, apostado em não hipotecar a capacidade de escolha do Governo português sobre a forma como sairá do resgate.

Sem ter conseguido acordar com o PS uma estratégia orçamental de médio prazo para o pós-troika, Passos quer manter tudo em aberto e, ao que o Expresso apurou, ainda não se comprometerá com a saída limpa que os alemães maioritariamente desejam para Portugal.

O primeiro-ministro sabe que a sua inclinação inicial para um programa cautelar (que o Presidente da República defende sem reservas) não agrada aos credores do Norte da Europa, que evitam enervar as respetivas opiniões públicas em vésperas de eleições. Mas quer convencer os alemães a não fecharem portas a garantias de apoio que Lisboa pode considerar vitais para arriscar sair sem rede e prescindir de um cautelar.

Esta "terceira via" (como tem sido referida por responsáveis europeus) ou "saída à portuguesa" (como corre pelos bastidores em Lisboa), seria o meio termo possível entre as duas tendências e passaria pelo conforto de um linha de crédito disponível e acionável se necessário, caso Portugal escolhesse uma saída direta para os mercados.

António José Seguro tentou condicionar o primeiro-ministro no fim de um encontro de três horas que tiveram em S. Bento, esta segunda-feira, ao dizer que se o Governo não escolher a saída limpa é porque politicamente falhou. Mas Passos Coelho resiste a ceder à chantagem. Ainda suspenso da decisão do Tribunal Constitucional sobre os cortes em salários e pensões e atento até ao fim à evolução dos juros da dívida, o primeiro-ministro não desiste de exigir garantias da União Europeia e tenta evitar riscos que possam deitar fora os esforços feitos nestes três anos.

A sua posição no Governo tem sido essa: ponderar bem a escolha que melhor proteja o país no médio prazo. "Basta, por exemplo, que a situação na Ucrânia se complique para que uma reação adversa dos mercados se vire imediatamente para os países mais frágeis e isso, para Portugal, podia ser trágico", afirmava ao Expresso um responsável governamental. Garantir que não ficaremos integralmente entregues a nós próprios, eis a prioridade negocial que o primeiro-ministro leva a Berlim.

Passos encontra-se com a chanceler Angela Merkel com três temas na agenda: questões europeias, o fim do programa de ajustamento português e a situação da Ucrânia. Mas o verdadeiro foco da conversa será, inevitavelmente, a preparação do pós-troika português. Depois do encontro com a chanceler, será a vez de discursar, ao final do dia, na conferência do jornal "Die Welt" para que foi convidado,

No discurso que levou de Lisboa, o primeiro-ministro reafirma o tom reivindicativo que tem vindo a usar mais recentemente quando fala da Europa, lembrando as reformas feitas pelo seu Governo que permitirão ao país terminar com sucesso o programa de ajustamento e exigindo mais coesão e solidariedade à União.

De aluno cumpridor que não se atrevia a pôr em causa o que lhe exigiam, Passos usa agora a arma da confiança recuperada para subir de tom na União Europeia e assumir um crescente protagonismo na frente externa.

Há três semanas, em Madrid, condenou as "discriminações implícitas com base na geografia" e exigiu celeridade nas reformas que devem ser feitas na Europa, assumindo a defesa de uma união bancária plena.  Esta terça-feira, quando falar aos alemães, não deverá dizer diferente.

A boa relação que Passos criou com Angela Merkel ajudará. Mas a margem de manobra de Lisboa para escolher livremente como sai do resgate não está garantida.

Fonte: Expresso.pt

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